Acerca do autor

Artur Lavinha

Paixão pela aquariofilia

As origens

Nasci em 1970 sou natural da Torre da Caparica, proveniente de uma de entre muitas famílias simples e humildes típicas da sociedade portuguesa desses tempos.
Tive o meu primeiro aquário tinha eu os meus 11 anos por volta do ano de 1981.
Nesse tempo não havia internet como agora nem dinheiro para comprar produtos e acessório caros das marcas da moda.
Não havia casas especializadas em aquariofilia como agora, quase tudo era comprado na casa de rações lá do bairro que vendia um pouco de tudo, desde milho para as galinhas, a passar pela alpista para o periquito e ao termóestato para o aquário até aos guppys e escalares .
O conhecimento era obtido na maioria das vezes por experiências próprias que muitas vezes corriam bastante mal, por troca de ideias entre os amigos e por vezes através de alguns poucos livros, demasiado caros para o nosso bolso e que iam aparecendo de vez em quando.
Lembro-me nessa altura de aos fins de semana pela manhã passar na RTP um programa excelente muito completo sobre aquariofilia onde mostrava ao vivo várias formas de obter materiais naturais nos cursos de água e de como conseguir excelentes soluções caseiras para quase todos os problemas a partir de quase nada.
Guardo também na memória com muita saudade, o lugar de culto que era a exposição viva permanente na Incrível Almadense que era o ponto de reunião habitual da comunidade aquariofilista da altura.

Ribeira de Coina
botia yoyo

A obsessão pela descoberta

No ínício dos anos 80 a filtragem mais comum era feita por filtros de fundo através de pequenas bombas de ar de membrana, podemos dizer que era eficaz, barato e de baixo consumo.
Iam aparecendo pontualmente aqui e ali uns canisters rudimentares enormes, mas o preço que custavam faziam que fossem algo que nem em sonhos fosse possível para mim e para a grande esmagadora maioria dos aquariofilistas da altura.
As Sump eram comuns em aquários grandes pertença dos aquariofilistas mais endinheirados, pois o preço das bombas de retorno faziam com que esta solução fosse conhecida mas rara de encontrar.
Foi também nessa altura que começaram a aparecer os primeiros filtros externos de cascata, mas na altura não tinha bomba, a agua era movida através do tubo de ar do compressor o que poderia tornar-se um problema grave por causa das inundações.
Eu como a maioria dos aquariofilistas recorria aos filtros de fundo para os meus pequenos aquários e de vez em aquando surgia um pico de amónia que obviamente provocava uma mortandade.
Sempre fui curioso, quando acontecia uma eventualidade dessas, não me limitava a começar de novo, dentro dos meus poucos conhecimentos passava vários dias a tentar autopsiar o aquário para tentar descobrir o que poderia eu fazer para melhorar o sistema.
Para dizer a verdade, eu morria de inveja pelo que a natureza conseguia fazer nos cursos de água onde a vida fluía naturalmente sem percalços dos do tipo que os meus aquários sofriam, eu ainda achava mais maravilhoso a capacidade que a natureza tinha em recuperar após qualquer eventualidade tal como uma seca ou uma cheia.
Ao autopsiar os meus aquários percebi rapidamente que algo estava muito errado com o meu substrato, o meu areão ao fim de alguns meses ficava com aquele cheiro forte a podre e nada tinha a ver com o aspecto dos cursos de água naturais que eu observava perto da minha casa.
Felizmente cresci numa zona onde havia alguns cursos de água onde passei muitas horas, dias, meses ou talvez anos se juntar todo o tempo que por lá andei.
Através das minhas observações percebi que a terra afunda e que depois a corrente da água transporta a areia limpa mais leve e mais solta e cobre a camada de terra por baixo.
Também percebi que a vida atravessava a areia e se fixava na camada de terra (lodo) e que essa camada de terra (lodo) cheirava tão mal como o areão dos meus aquários.

Experimentar coisas novas

Nesses tempos confidenciava com os meus amigos dos aquários acerca das minhas ideias de auto-sustentação, sempre me disseram para me deixar de disparates, para manter os meus filtros de fundo e para não perder o meu tempo com essas coisas porque é impossível manter um ecossistema auto-suficiente dentro de um aquário.
Eu nunca duvidei dessa realidade, mas sempre acreditei que seria possível ser capaz de me aproximar muito mais do equilíbrio natural dos ecossistemas selvagens.
Comecei por cobrir o meu areão fedorento com areia mais fina e coloquei alguns vasos cheios de lodo recolhido nas ribeiras coberto com areia fina e plantei-os densamente.
O resultado foi que as tragédias ocasionais provocadas pelos picos de amónia desapareceram.
Na altura não me passava pela cabeça retirar o filtro de fundo, pois na minha cabeça erradamente a vida no aquário dependia dele, da mesma forma que nesse tempo eu não imaginava a importância real dos vasos plantados dentro dos aquários.
Fui evoluindo os meus métodos e nos anos 90 não ligava muito aos canisters acessíveis ao meu bolso que iam aparecendo progressivamente no mercado.

Nos anos 2000 o destino levou-me a viver uns anos no estrangeiro e durante esse tempo não tive aquários.
Quando regressei a Portugal, voltei ao vício da aquariofilia e montei orgulhosamente um aquário com uns canisters modernos e caros porque já tinha capacidade para os comprar e porque julguei ser a opção mais racional.
Depressa percebi que os canisters não faziam o que eu queria, não me satisfaziam e que não deixavam o aquário seguir o rumo que eu queria que seguisse.
Como resultado perdi o interesse, acabei com os aquários e arrumei os canister nas prateleiras.

Kribensis
Escalar

A internet e o presente

No entanto nunca perdi totalmente o interesse e fui pesquisando na internet acerca do assunto, até que um dia encontrei casualmente os rooted tanks, de imediato percebi que tinha encontrado a minha gente.
Depressa encontrei comunidades de Dirted Tanks, Rooted Tanks, Walstad Tanks entre outras variantes.
Na verdade senti-me o ser mais idiota em cima do planeta, como é que pude estar tão perto da solução e entender tanto do assunto e nunca ter conseguido chegar ao resultado final?
Na realidade até sei como isso aconteceu, agarrei-me a algumas verdades que eu acreditava serem absolutas e que na realidade não eram assim tão absolutas.
Ganhei coragem, na altura já era mais velho e tinha os meios necessários, comprei alguns aquários usados no OLX, juntei o que sabia aos conceitos novos que entretanto aprendi, fiz muitas experiências e hoje cá estou.
Tenho consciência que sou um espécie em vias de extinção, mas tenho muito orgulho no que aprendi e no que sou capaz de fazer.
Haja mais quem se interesse e não deixe os rooted tanks morrer.